quarta-feira, 29 de abril de 2009

Meu amigo Jay

Meu vizinho sempre foi muito estranho. Jay, como a gente o chamava, quando pequeno vivia dizendo que era filho de outro pai, que sua mãe ainda era virgem. Contava histórias de que fez um passarinho reviver ou que conversou sobre política e coisas assim com uns anciãos da vila. Isso tudo aos 12 anos mais ou menos. Bom, a turma nunca acreditou nele.
Mas aí a gente cresceu e tudo mais. Jay foi convidado pra uma festa de casamento de uma prima dele e como a gente não é besta, foi todo mundo de penetra. Toda aquela fartura, música boa, vinho pra geral. Até que avisaram pro Jay que não tinha mais vinho. O cara surtou. Falou que precisava fazer algo e como ainda estava convicto que era um deus, foi pra cozinha e chegou ao jarro de água. Não sei como o cara fez aquilo, mas a água ficou vermelho-sangue na hora. Ainda duvido do saquinho de suco Tang, mas não falei nada.
E aquela coisa lhe subiu à cabeça. Ficou forte a idéia, ele se juntou com mais uns 12 colegas de reggae que ele conhecia e ficou vagando por aí, fazendo milagres, e convencendo pessoas de que ele era um deus. Sabia que isso ia dar problema mais cedo ou mais tarde.
E foi dito e feito. Numa hora ele tava fazendo uma festa com pão e vinho pro pessoal e na outra ele tava tirando um cochilo no Monte quando chegaram os caras pra prender Jay. Tudo culpa do Judão que, todo mundo sabia, era apaixonado por Jay e nunca conseguiu nada com ele, já que ele tava de rolo com a Madá. Até dar um beijo no rosto dele, Judão deu. Veado atrevido.
E aí, Jay foi acusado de ser um falso profeta e acabou condenado a crucificação. Quando soube da história, fui logo pra dar um jeito nisso, livrar meu amigo de mais uma enrascada. Mas cheguei tarde demais. Ele já tava pregado naquela cruz enorme, entre dois ladrões. Encontrei com tia Maria e a Madá chorando, não conseguia pensar em nada.
Foi aí que Jay desmaiou. O desceram da cruz, examinaram e o deram por morto. Achei estranho, porque nunca ninguém tinha sido morto assim crucificado. Foi aí que lembrei da catalepsia do Jay. Sabia que mais tarde ele levantaria numa boa. Peguei Madá, contei a história e esperamos até o levaram pra tumba dele. Entramos sem que ninguém nos visse, passamos umas ervas pra curar os ferimentos dele, quando do nada ele levantou perguntando o que tinha acontecido.
Explicamos tudo pra ele, e pensamos num plano como o fazer fugir sem que ninguém percebesse. Porque, claro, se vissem que Jay estava vivo, cairiam em cima dele até o cara realmente cair morto no chão. Foi aí que Madá teve a ideia da ressurreição no terceiro dia, assim ele ainda teria a tal fama de deus que ele começou.
No domingo, colocamos uma roupa bem legal no Jay e Madá se preparou pra sair correndo e chorando, dizendo que ele tinha levantado e subido aos céus. Depois disso foi fácil arrumar uma mala pros dois saírem do país. Ainda mantemos contato. Não me perguntem se tudo o que ele fez foi realmente coisa de um deus, porque eu não sei. É cara legal esse Jay. Meio maluco, meio inconseqüente, mas legal.

Texto pra aula de Oficina de Texto 1 do dia 30 de abril.

4 comentários:

Lupe Leal disse...

genial!!!!

JoNeS disse...

:o muito legaal :D

Anônimo disse...

jeniau!

D! disse...

Increible..sin duda tienes mucho talento!

 
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